AOS QUARENTA
Às mulheres. Algumas mulheres, quando completam seus trinta e cinco anos, correm para as academias; exageram nas maquiagens; mudam a alimentação e fazem de tudo para perderem alguns quilos. Algumas - as mais exaltadas - trocam todo o guarda-roupa, é uma verdadeira maratona contra o tempo e o peso, passam horas dentro do banheiro: Creme disso, creme daquilo, máscara de creme de pepino, creme de abacate ou de algas marinhas, ou sei lá de que; uma salada completa. Depois, cortam o cabelo bem curto – assim como os homens – e dizem que assim ficam com o rosto mais jovem:
- Minha idade cronológica não tem nada a ver com minha idade psicológica. – Olham de um lado para o outro no espelho, no final, arrebitam a bunda como ato triunfal.
- Ainda tenho cara de vinte anos. – Diz a outra esticando as maçãs do rosto.
Acho que tudo é válido para ficar mais jovem alguns anos, isso tudo faz parte da alto-estima do ser humano e principalmente da mulher, que por natureza já é mais vaidosa que o homem, mas não podemos esquecer que todo este aparato de artifícios é apenas uma parte de todo um conjunto de características que envolvem a personalidade da mulher – nada mais ridículo que uma mulher de trinta e cinco, agindo como uma de dezoito anos -. Não sei o que há de errado com as mulheres de trinta e cinco, eu adoro essa idade nas mulheres, elas passam segurança, firmeza de opinião, experiência de vida, sabem perfeitamente o que querem e quando querem; têm um bom papo e tudo mais. Também não estou falando que elas não devam mostrar suas belezas, caprichar nos retoques femininos, afinal de contas o charme e a elegância são básicos para a vida social da mulher - o visual é importante e quem não reconhece isso é um tolo, mas deixe que tudo flua naturalmente, sem o esmero da frivolidade, sem que seja preciso passar pelo ridículo da saía curtíssima, botas pretas de cano longo e salto alto, com uma blusa transparente, porque desse jeito, minha cara, só falta rodar a bolsinha.
Aos homens. Sempre digo aos meus amigos que estão chegando à idade do lobo, que para eles reconhecerem que já estão com cara de quarenta, é só ouvir as amigas de sua filha, se elas os chamarem de “HEI, TIO!”, então meus amados amigos, corram para as academias o mais depressa possível - ou quem sabe, para um bom terapeuta, porque a “andro” vem aí. Claro, não vamos cair também no ridículo, em sair por aí pedindo socorro para as academias, ou fazendo demonstrações baratas de conquistador metido a experiente, e de homem bem sucedido, passando cantada em toda mulher que se aproxima de você, como o Raul Gadelha, um amigo lá da avenida 02; velho metido, com palavriado de menino:
- Cara, que mina gostosa, aquela que está encostada no carro com aquele carinha!
- Não fica olhando, que chama a atenção.
- Se aquele carinha der folga eu chego junto.
- Eu acho que você já bebeu demais. É meia noite, acho melhor agente ir embora, pode deixar que hoje eu pago.
- Então pede a conta.
- Garçom! Traga a conta por favor! – Alguns minutos depois a conta chegou e o Gadelha perguntou ao garçom:
- Amigo, você sabe quem é aquela gata que está do outro lado da rua?
- Qual?
- Aquela de branco.
- Ah sim, claro, ela vem quase todo final de semana e pede uma pizza brotinho. Ela mora aqui perto.
- E quem é?
- A Clara Gadelha.
O Gadelha expressou um sorriso amarelo...
Leandro Dumont
2002.